sexta-feira, 31 de julho de 2009

Nota Musical III: Caricaturas do Chop Shop Guitar Show Hall of Fame

O site de um programa de rádio gringo chamado Chop Shop disponibilizou em seu site wallpapers com caricaturas de diversos Guitar Heroes. Confira:
http://www.chopshopradio.net/hall_of_fame.html

A segir, alguns dos guitarristas que eu considero como grandes ídolos:

segunda-feira, 27 de julho de 2009

The Dark Side of the Moon (Pink Floyd) - A obra-prima do Rock

Antes de começar esta resenha, já vou pedindo desculpas pelo o que vou escrever nas próximas linhas. O primeiro motivo para as desculpas é que escrever sobre este álbum exige uma grande responsabilidade, principalmente considerando que um Floydiano fanático possa ler este artigo. O segundo motivo é que este álbum (ainda) não faz parte da minha cabeceira...

Antes de começar a escrever este artigo, tomei o cuidado de assistir o documentário comemorativo de 30 anos do álbum, que conta com entrevistas com os membros da banda - David Gilmour (guitarra e voz), Roger Waters (baixo), Richard Wright (piano, órgão e sintetizadores) e Nick Mason (bateria) - e outros participantes do processo de gravação do álbum. Recomendo este documentário a todos que curtem a banda ou que pelo menos têm curiosidade sobre este álbum.


Bem, lembro que meu primeiro contato com este álbum foi aos 15 anos, quando estava começando a curtir Rock n' Roll e estava formando meu gosto musical. Um colega meu (o Marcel "Dente") tinha escrito numa divisória de fichário uma letra de música que tinha vários versos iniciados com "All that you" (algo do tipo "tudo o que você", em tradução livre). Ele, fã do Pink Floyd, me disse que era a letra de Eclipse, que mais tarde vim a descobrir que era a música de encerramento do The Dark Side of the Moon. Lembro que meses depois pedi uma cópia do CD pra ele, e ele se recusou a copiar pra mim. E depois eu vim entender o motivo da recusa: todas as músicas do CD são ligadas, e a cópia do CD tiraria as emendas. Anos mais tarde, quando já estava na faculdade, peguei um jornalzinho de um dos centros acadêmicos e vi um review sobre este álbum. E foi este review que se tornou a semente para este blog - os reviews sobre o Moving Pictures e o Turbination foram publicados em outro jornal da minha faculdade.

Bem, deixando os adendos de lado, vamos ao lado escuro da lua...

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Apesar de, segundo o baterista Nick Mason, o álbum The Dark Side of the Moon (1973) ter sido idealizado numa lanchonete, ele representou muita coisa para a história do Rock. A mais importante dela foi a popularizaçao do Rock Progressivo e dos álbuns conceituais. Os críticos musicais costumam rotular como conceitual um álbum que tenha um tema único, aparentando como se fosse uma obra única, sem divisões (e neste caso, não há sequer intervalos entre as músicas). No caso do Dark Side, o tema principal são as angústias humanas: a rotina massacrante do trabalho, a falta e o desperdício de tempo, o dinheiro e a ganância, a violência e a incompreensão da natureza individual. Outro aspecto importante foi a fusão de estilos como o Rock, o Jazz e o Blues de uma forma jamais feita anteriormente.

Em termos de sonoridade, as maiores contribuições que o Pink Floyd trouxe com este álbum foram os sintetizadores e sequenciadores. Para quem não sabe, sintetizador é como se fosse um teclado, porém ele tem recursos para a criação de qualquer som (quando digo qualquer, significa qualquer mesmo) a partir de elementos básicos de síntese sonora, como os osciladores, filtros e moduladores. Na época da gravação do álbum, um sintetizador poderia ocupar uma sala inteira, e hoje eles cabem numa carcaça do tamanho do teclado do seu computador. Os sequenciadores são módulos que operam junto com sitetizadores e são resposáveis por criar sequências de execução de notas previamente escolhidas. Escolhidas as notas, é possível escolher um padrão de sequência, a velocidade da execução, etc. Um clássico exemplo de sequenciador é a introdução da música Rádio Pirata, do RPM.

Além da obscuridade natural do álbum, corre uma lenda urbana que diz que o The Dark Side of the Moon seria uma trilha sonora alternativa para o filme O Mágico de Oz. Esta lenda tomou mais corpo quando uma rede de TV transmitiu o filme com o The Dark Side of the Moon de fundo (versão conhecida como The Dark Side of the Rainbow). Dizem que se você der o play no álbum ao terceiro rugido do leão da MGM, vários eventos do filme coincidem com partes das músicas do álbum :
- O início de On the Run coincide com a queda de Dorothy de uma mureta para dentro de um chiqueiro. E enquanto toca o som de helicóptero no final, Dorothy está olhando para o céu.
- Uma mulher aparece andando de bicicleta quando tocam os relógios de Time.
- No começo de The Great Gig in the Sky, no qual há falas de pessoas falando sobre a morte, uma grande ventania começa perto a casa de Dorothy. No momento que ela entra em casa, inicia a parte calma da mesma música.
- No momento em que Dorothy sai de sua casa e encontra o mundo colorido, começam as caixas registradoras de Money. E a segunda parte do solo coincide com a dança de vários anõezinhos.
- No começo de Us and Them (música que teve como origem cenas de violência de um filme) um anão aparece com um "certificado de morte". Mais tarde, no momento em que David canta "black" (preto), aparece a bruxa. E quando David canta "down" (para baixo), a bruxa se abaixa para tocar os pés de algum "ser".
- No começo de Any Colour You Like, Dorothy entra na estrada de trijolos amarelos.
- O início de Brain Damage, com o verso "The lunatic is on the grass" (o lunático está na grama), coincide com a dancinha retardada do Espantalho.
- Quando Dorothy coloca a mão no peito do Homem de Lata para sentir que ele não tem coração, na trilha sonora alternativa toca o coração do fim de Eclipse.

É, vamos ao álbum antes que você enlouqueça...

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Nome do álbum: The Dark Side of the Moon
Ano de lançamento: 1973
Músicas:
1. Speak to Me/Breathe
2. On the Run
3. Time
4. The Great Gig in the Sky
5. Money
6. Us and Them
7. Any Colour You Like
8. Brain Damage
9. Eclipse

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1. Speak to Me/Breathe
Esta música começa com uma sequência de sons diferentes: batidas de coração, caixas registradoras, vozes, etc. Vários desses sons são utilizados nas outras faixas do disco. As vozes são na verdade resutado de gravações de entrevistas feitas por Roger Waters com pessoas da equipe do Pink Floyd. Algumas histórias dizem que foi feita uma entrevista com Paul McCartney, porém o conteúdo de suas respostas foi tal que não seria responsável colocá-las nas faixas do álbum. A parte relativa a Speak to Me termina com o longo grito de uma mulher, e logo entra a parte relativa a Breathe. Breathe conta com um misto de influências, desde o Jazz no piano até a música havaiana no lap steel (um tipo de guitarra para tocar no colo, com um slide). A letra fala sobre a pressão que sofremos no dia-a-dia, principalmente em relação ao trabalho. O fim desta música se encontra, na verdade, no fim da música Time - este assunto já foi discutido na Nota Musical I. Outra curiosidade sobre esta faixa é a utilização de mais de uma faixa de vocais fazendo harmonias, como as duplas sertanejas brasileiras fazem. Este recurso foi inovador em gravações da época.

2. On the Run
On the Run é outro clássico exemplo do que sintetizadores e sequenciadores são capazes. O padrão principal deste instrumental é composto por 4 notas repetidas em grande velocidade. Além disso, são usados filtros e ruídos para dar uma idéia de movimento para o som. Isso sem contar com o som de pratos de bateria tratados com filtros e osciladores, guitarras com efeito de eco reverso, batidas de coração, passos, etc. E imagine que toda a mixagem destes sons era feita "no braço", rodando fitas e mais fitas (como o prório David Gilmour diz no domcumentário: "A mixagem, naquela época, era uma performance."), e sem o auxílio de computador como se faz hoje em dia. Se você não entendeu lhufas, tudo bem, isso já era esperado. Pelo menos você pode repetir isso para alguém ficar espantado assim como você.

3. Time
Essa é a dos famosos relógios sincronizados, coisa que deu um trabalhão pra mixar "no braço". A levada com cara de Reggae das estrofes contrasta de modo interessante com os refrões mais blueseiros com participação das backing vocals. Logo depois vem o solo de guitarra, uma mistura da melancolia do Blues com o "positivismo" da textura envolvente criada pelo eco. A letra fala de mais uma das conhecidas frustrações de Roger Waters, desta vez com relação à criação dada pela sua mãe, que prezava a educação do seu filho para a vida adulta. Na letra de Time, Roger fala sobre como se deu conta de que perdeu momentos preciosos da infância e da adolescência devido a esta educação que teve, e fala também sobre a angústia relacionada ao pasar do tempo e à proximidade do fim da vida.

4. The Great Gig in the Sky
Esta música começa mais uma vez com um piano bem jazzístico. As falas que acompanham o lap steel são as respostas de uma das entrevistas, mas especificamente repostas para a pergunta: "Você tem medo de morrer?". Para esta canção, foi convidada a cantora Clare Torre para um improviso vocal. A única instrução que ela recebeu foi para pensar no horror e na morte na hora de gravar, e o resultado foi maravilhoso. Só para constar, o título da música, em tradução livre, significa "a grande apresentação no céu".

5. Money
Money foi um dos maiores hits deste álbum. Como parte de uma campanha de marketing para levar o Pink Floyd para os Estados Unidos, foi lançado um single com esta música. Os sons de caixa registradora na introdução viraram referência para trilhas sonoras de tudo quanto é coisa que você possa imaginar. Basicamente, a letra de Money trás uma reflexão sobre a ganância e sobre como se conduz uma vida quando se tem muito dinheiro. Esta reflexão fez parte da vida da banda, pois eles vinham atingindo um grande sucesso na época e tinham dificuldades em lidar com as consequências da fama e do dinheiro. Desta música vem um dos significados da capa do disco: a pirâmide é o símbolo da ganância - basta lembrar que grandes monumentos como as pirâmides do Egito e as dos Maias tinham este formato. A luz representa a própria luz da banda. Nesta música há a participação do saxofonista Dick Perry num solo de saxofone. Logo em seguida deste solo de sax, vem o solo de guitarra, num compaso cuja a fórmula (4/4) foi mudada em relação à fórmula do restante da música (7/4) simplesmente para facilitar a vida do David Gilmour.

6. Us and Them
A estrutura de Us and Them já havia sido criada antes em 1969, quando o Pink Floyd fez a trilha sonora do filme Zabriskie Point, do diretor Michelangelo Antonioni, que tem como tema central o movimento de contracultura nos Estados Unidos dos anos 70. A base de piano foi feita em cima de uma cena de violência, e mesmo com as críticas de Antonioni ("É lindo, mais é muito triste. Me faz pensar em igrejas."), acabou ficando na trilha do filme. Eu sinceramente não consegui tirar conclusões sobre a letra, então usarei as palavras de Roger Waters:

As letras são diretas e lineares. São questões fundamentais sobre se a raça humana é capaz de ser humana.

Entendeu? Eu também não. Coisas do Roger... A grande beleza desta música está nos espaços deixados pelos instrumentos. Não são partes silenciosas, e sim momentos em que os instrumentos são deixados soar. Além disso, outro detalhe que chama atenção são os belos vocais de David e Richard nos refrões.

7. Any Colour You Like
Any Colour You Like é mais um instrumental no qual os sintetizadores são explorados ao extremo. Alguns efeitos como o tremolo e o chorus também são utilizados na guitarra para aquele tipo de timbre "molhado". O final desta música é a preparação para Brain Damage.

8. Brain Damage
Brain Damage é uma música feita para gênios incompreendidos. Assim como Syd Barret, fundador do Pink Floyd que supostamente teria ficado louco devido às muitas viagens de LCD durante sessões de composição para a banda, muitos acreditam que o próprio Roger Waters é um louco em potencial devido às suas paranóias remoídas desde a infância. Todas essas paranóias de Roger o levaram a escrever um álbum inteiro sobre o assunto, o The Wall (1979).

9. Eclipse
Para fechar o álbum, Eclipse trás a idéia de que apesar de tudo parecer estar em harmonia, a lua pode tapar o sol trazendo a escuridão - ou seja, a harmonia sempre pode ser quebrada. O clima dos arranjos traduz bem a angústia pelo momento em que se consolida o eclipse, tanto que nas apresentações ao vivo é justamente a imagem de um eclipse solar que é transmitida no telão do palco.

Para acabar esta resenha, gostaria de citar duas frases. Uma delas é do David Gilmour, declaração esta que me faz ter uma certa pena dele:

Eu adoraria ser uma pessoa que coloca os fones e escuta o álbum pela primeira vez. Nunca tive tal experiência... mas seria ótimo.

A outra é a fala que encerra o álbum:

Não há um lado escuro na lua, de fato. Ela é toda escura.

domingo, 26 de julho de 2009

Nota Musical II: Os plágios sutis dos Mamonas Assassinas

O Mamonas ganhou notoriedade entre 1995 e 1996 com as suas letras cômicas e com tom de paródia. Na época eu tinha 8 anos, e como a maioria das crianças me limitava a decorar e cantar todas as músicas do primeiro e único álbum da banda, o Mamonas Assassinas. Só depois de "crescidinho" eu vim a notar a genialidade e sutilieza destes rapazes de Guarulhos ao ridicularizar várias figuras nacionais, desde Belchior até Sepultura.

Porém, antes de ganhar a fama, a banda se chamava Utopia e tinha um conteúdo mais sério em suas letras. Desde aquela época eles já mostravam grande influência de bandas de som mais pesado. Esta influência persistiu após a guinada em que deram na carreira, trazendo o bom humor para as suas letras e mudando o nome da banda, mas eram as sátiras que tinham o maior foco de todos os ouvintes.

Dentre as várias sátiras e imitações, muitas pessoas não perceberam dois plágios sutis na música Bois Don't Cry. Não, o nome da música não é um deles - lembra de Boys Don't Cry, do The Cure? Os plágios se situam na parte pesada da música. A levada rítmica desta parte pesada foi descaradamente chupinhada da música The Mirror, do Dream Thater, com uma pequena mudança no tom para se adaptar ao resto da música. Uma outra chupinhada, esta mais sutil, está numa paradinha na parte pesada acompanhada de um timbre de teclado chamado sweep. Desta vez a música plagiada foi Tom Sawyer, do Rush.

Vejam nos links a seguir as versões originais de cada música e um remix que eu fiz para confrontar os originais e a cópia.
- Bois Don't Cry:
http://www.4shared.com/file/120680109/1f8cc961/BOIS_DONT_CRY.html
- The Mirror (parcial):
http://www.4shared.com/file/120682600/c916afcb/THE_MIRROR__parcial_.html
- Tom Sawyer:
http://www.4shared.com/file/120681621/9e925231/TOM_SAWYER.html
- remix Bois Don't Cry/The Mirror/Tom Sawyer:
http://www.4shared.com/file/120682927/6e181fd7/remix_BOIS_DONT_CRY-THE_MIRROR-TOM_SAWYER.html

sábado, 25 de julho de 2009

Nota Musical I: A "continuação" de Breathe, do Pink Floyd

Gostaria de abrir uma série de posts sobre curiosidades musicais em geral - as Notas Musicais. Pretendo que efetivamente vire uma série e não fique restrita a alguns poucos posts.

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Breathe é a música introdutória do célebre álbum do Pink Floyd, o The Dark Side of the Moon (1976). Ela é quase como um "overture" do álbum, juntamente com a estranha Speak to Me que a precede - esta é apenas uma motagem de sons que aparecem ao longo do álbum. Pois bem, vendo um vídeo da reunião do Pink Floyd ocorrida em 2005 no Live 8 (veja o vídeo abaixo) "descobri" que o final de Breathe está no final da quarta música do mesmo álbum, Time.



De fato, Breathe parece que não tem um fim, logo após ela já entra On the Run. O fim de Time tem os mesmos acordes (mi menor e lá) tocados do mesmo jeito que em Breathe, por isso parece ser uma continuação de Breathe.

Para ficar mais claro, seguem os links para você ouvir cada uma das músicas em sua versão original e um remix que eu fiz de Breathe com o fim de Time:
- Speak to Me/Breathe:

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Test for Echo (Rush) - Um álbum com uma identidade misteriosa

Ao longo de sua história, o Rush sempre fez álbuns que tivessem uma identidade. Quando digo "identidade", quero dizer que os álbuns ou tinham um tema central (nenhum chegou a ser conceitual, ou seja, nenhum tem um tema sobre o qual o álbum se baseia do início ao fim, como se estivesse contando uma história) ou tinham alguma característica que os identificava em detrimento dos outros. A luta do pensamento individual contra o pensamento massificado em 2112 (1976), o duelo entre a razão e a emoção em Hemispheres (1978), os instintos humanos em Hold Your Fire (1987), o destino e a sorte em Roll the Bones (1991) e a religião em Snakes & Arrows (2007) são alguns exemplos de temas explorados pelo Rush ao longo da carreira. Por outro lado, a imaturidade do primeiro álbum lançadado em 1974 (o homônimo Rush), o início do "empopizamento" - professor Pasquale, me perdoe pelo neologismo – em Permanent Waves (1980), a tensão e certa obscuridade em Grace Under Pressure (1984), o som cru em Counterparts (1993) e a mixagem suja de Vapor Trails (2002) são exemplos de características marcantes de alguns álbuns do Rush.


Ao contrário deste “padrão” estabelecido não intencionalmente pela banda, em 1996 foi lançado o álbum Test for Echo. Este álbum não tem uma característica muito evidente, e eu mesmo demorei meses pra entendê-lo. Vou falar sobre o álbum primeiro, depois vou contar a minha conclusão.

Este álbum foi bem peculiar na carreira do Rush por vários motivos. O primeiro deles foi a pausa que eles deram antes da sua gravação. Eles vinham numa seqüência de gravações e turnês desde 1989, ano do lançamento do álbum Presto. Após a turnê do álbum Counterparts (1993) eles decidiram tirar um tempo de folga. Neste intervalo o guitarrista Alex Lifeson lançou seu primeiro álbum solo, chamado Victor, no qual ele mostra uma certa tendência para sons mais pesados, tendendo ao Heavy Metal. Neil Peart voltou a ter aulas com seu guru baterístico, Freddie Gruber - e as aulas foram tão produtivas que tempo depois ele lançou seu primeiro DVD-aula, o A Work in Progress, em 1997. E enquanto isso, o baixista e vocalista Geddy Lee se ocupava com a paternidade. Após a volta para a gravação do Test for Echo, todos eles juntaram as suas experiências vividas no tempo de folga para o novo material. Esta influência das atividades realizadas no tempo de folga podem ser notadas no som bastante pesado do álbum (muitas músicas têm guitarras afinadas abaixo da afinação padrão, o que contribui para o peso do som) e simplesmente no jeito com o qual Neil Peart passa a segurar as baquetas na turnê deste álbum (o traditional grip, veja a mão esquerda do baterista na foto). O segundo motivo para a peculiaridade do álbum foi o processo criativo. Ao longo de toda a história do Rush (considerando o período antes e depois deste álbum) o processo de composição se dividia nas partes musical e escrita – Alex Lifeson e Geddy Lee cuidavam da primeira e Neil Peart da segunda. Os dois “departamentos” sempre trabalhavam paralelamente, e ao juntar os dois trabalhos (sempre colocando partes musicais na letra de Neil) pequenos ajustes eram feitos. Desta vez o processo foi diferente: trechos de letras guardados por Neil há anos se juntaram com ideias musicais de Alex e Geddy simultaneamente, num processo extremamente espontâneo. Deste modo, as letras das músicas passaram a ter temas diferenciados e inclusive ter uma interpretação múltipla, pois os versos foram unidos como numa colagem. Apesar deste aspecto um tanto quanto "cubista" das letras, na maior parte dos casos é possível distinguir um tema em cada música. O terceiro motivo para a peculiaridade do álbum pode ser descrito pela seguinte frase, escrita nas paredes do estúdio de gravação:
Individualmente somos idiotas, mas juntos somos gênios.
Esta frase resume o espírito intenso de coletividade expresso nas músicas deste álbum e de como a coletividade pode ser mais brilhante que a individualidade. Contradizendo os temas individualistas do início da carreira, esta coletividade musical expressa pela banda mostra que eles atingiram um amadurecimento musical significativo.

Com todas estas mudanças no jeito de fazer música e após algum tempo fora da estrada, a banda teve um certo receio de como seria recebida com seu novo material. E o desejo de ver como o público responderia a um novo trabalho os levou para uma nova turnê. Eles precisavam de um “eco” da galera – daí a idéia para o nome do álbum.

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Nome do álbum: Test for Echo
Ano de lançamento: 1996
Músicas:
1. Test for Echo
2. Driven
3. Half the World
4. The Color of Right
5. Time and Motion
6. Totem
7. Dog Years
8. Virtuality
9. Resist
10. Limbo
11. Carve Away the Stone

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O álbum começa com a música-título Test for Echo. Além de já trazer a tal idéia do "eco" que a banda precisava ter, a música já trás o tom do álbum todo em termos de peso nas guitarras - característica que já vinha desde o álbum anterior. Logo depois vem Driven, uma músca que trás o espírito de motociclista viajante de Neil Peart - vale lembrar que no fim dos anos 80 Neil fez uma viagem de bicicleta pela África, e desde então passou a fazer as turnês do Rush viajando em sua moto - e também um pequeno "solo" de baixo que normalmente é esticado nas versões ao vivo. Half the World fala sobre as desigualdades que existem no mundo. Nesta música Alex mostra suas influências "folk" tocando uma mandola (instrumento semelhante ao bandolim e ao cavaquinho) num trecho da música.

The Color of Right é a primeira das músicas "cubistas". Ela trás algums idéias relacionadas sobre o que é certo ou errado, mas eu não tirei nenhuma conclusão a respeito, me desculpem. A próxima, Time and Motion, é outra filosofia cubista acerca do tempo e do movimento. Esta música tem uma das raras participações dos teclados com maior destaque.

Totem é mais uma música que fala sobre religião. Desta vez Neil discute sobre o mundo de religiões, ceitas e outras entidades espirituais que estão disponíveis para a nossa "escolha". Esta discussão é feita através de uma metáfora na qual cada um de nós está num totem assistindo às manifestações e discursos de todas as entidades religiosas enquanto elas fazem um tipo de "propaganda" para nos atrair.

Dog Years é uma mera metáfora para a vida humana, comparando-a com a vida canina. Virtuality antecipa vários aspectos e influências da difusão da internet e outras ferramentas derivadas da informática - vale lembrar que, na época, o mundo virtual estava dando os primeiros passos. Resist é uma bela canção "folk" (quem disse isso foi o prório Geddy, no DVD Rush in Rio) que tem um tom lírico e pessimista semelhante a outras músicas lançadas previamente - Bravado, do álbum Roll the Bones (1991); e The Pass, do álbum Presto (1989). Esta música ganhou uma versão acústica durante as turnês do álbum Vapor Trails e dos 30 anos da banda. Confira um vídeo bootleg desta música tocada na turnê R30:



Limbo talvez é o melhor exemplo para a célebre frase estampada nas paredes do estúdio. Na minha opinião é a instrumental mais complexa do Rush em vários quesitos: execução, criatividade, mixagem, etc. Além do trabalho em equipe do trio funcionar perfeitamente, há pequenos espaços para brincadeiras individuais. Pra encerrar, Carve Away the Stone trás uma metáfora na qual uma pedra simboliza a "bagagem" que nós adquirimos durante a vida e temos que carregá-la, ou às vezes deixar uma parte de lado.

Depois de meses que eu comprei este álbum, só há algumas semanas cheguei a uma conclusão sobre o que ele quer dizer. Talvez a identidade dele na discografia do Rush seja esta sua cara meio "cubista", um tanto quanto aleatória no que diz respeito a um tema principal. Além disso, o Test for Echo encerrou uma nova fase do Rush, marcada pelo retorno das guitarras ao papel principal das harmonias e melodias das músicas.

E o fim desta nova fase teve um desfecho trágico para a banda. Num intervalo de 11 meses, Neil perdeu sua filha num acidente de carro e sua mulher vítima de câncer. Após esta tragédia pessoal, a banda decidiu parar as suas atividades e Neil fez uma viagem de moto pela América do Norte, como uma espécie de "viagem interior" para tentar entender tudo o que estava acontecendo na sua vida. Como resultado desta viagem foi lançado o livro Ghost Rider.

Em 1998 foi lançado mais um álbum ao vivo na carreira do Rush, o Different Stages, um álbum com performances das turnês deste álbum e do álbum Counterparts em dois CDs e mais um terceiro CD com a gravação de uma apresentação da turnê do álbum Hemispheres feita em 1978 . E como homenagem às perdas sofridas por Neil Peart, foram usados versos da música Afterimage, do álbum Grace Under Pressure (1984):
Suddenly, you were gone
From all the lives you left yourmarkupon

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Emmerson Nogueira Ao Vivo - Uma aula de acústico

Mais uma resenha de um DVD muito legal pra vocês...

Bem, antes de comprar um CD ou um DVD eu costumo analisar a relação custo-benefício dividindo o preço do produto pelo número de músicas legais. Por exemplo, um CD que tenha 3 músicas legais e custe R$24 tem uma relação custo benefício de R$8 por música legal. Pelos meus critérios, R$5 por música legal é um valor razoável para comprar um CD ou DVD. Pois então, este DVD teve um custo-benefício de R$2,10 por música legal, e chutando alto. Este preço se deve tanto ao preço do DVD (comprei uma versão econômica por R$25) quanto pelas músicas do set list (contei 12 como "legais"). Mas esta é uma análise feita só olhando a capinha do DVD. Vendo o show inteiro o custo benefício tende a aumentar estratosfericamente...

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Nome do álbum: Emmerson Nogueira Ao Vivo
Lançamento: 2009
Músicas:
01. It's Raining Again (Supertramp)
02. Emotion (Bee Gees)
03. Rosanna (Toto)
04. The Logical Song (Supertramp)
05. Roxanne (Police)
06. Money (Pink Floyd)
07. Listen To The Music (The Doobie Brothers)
08. Mrs. Robinson (Beatles)
09. A Horse With No Name / Ventura Highway (America)
10. Tears In Heaven (Eric Clapton)
11. Sailing (Christopher Cross)
12. Kayleigh (Marillion)
13. Follow You Follow Me (Genesis)
14. Instrumental Vocal
15. Wish You Were Here / Breathe (Pink Floyd)
16. I Still Haven't Found What I'm Looking For (U2)
17. Give a Little Bit (Supertramp)
18. Instrumental Viola
19. Have You Ever Seen The Rain (CCR)
20. Every Breathe You Take (Police)
21. Blowin' In The Wind (Bob Dylan)
22. I Want To Break Free (Queen)
23. Final (instrumental)

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Este DVD é o tipo ideal para trilha sonora: você deixa rolando de fundo para uma festinha em casa, para uma reunião com amigos, para um restaurante ou barzinho, etc. Mas também é um desperdício deixar de ver o espetáculo que é este show. E este espetáculo se deve a vários fatores: qualidade dos músicos, arranjos bem feitos e criativos, produção do show, empolgação do público do show, etc.

Como o próprio Emmerson diz nos extras, este projeto acústico no qual ele está envolvido desde 2000 - período em que gravou quatro discos com versões acústicas de clássicos do Pop e do Rock que vão desde Rush até Simply Red, e um álbum só com músicas dos Beatles - tomou como característica ter arranjos bem criativos. Estes arranjos, além de serem "necessários" para contornar elementos da música "plugada" (como sintetizadores, guitarras distorcidas e efeitos em geral), se tornaram uma ferramenta para fugir do padrão do acústico simples tocado com os acordes básicos da música, como se fosse um luau.

Em especial para o DVD, o acústico tomou forma de "banda". Assim como há o clássico formato de guitarra, baixo e bateria (e também teclados) no Rock, a banda formada para o show tem o formato análogo de violões (e todas as suas variações: nylon, 6 cordas, 12 cordas, viola cinturada, lap steel e bandolin), baixolão, piano e bateria. E o mais legal é que este formato de banda funciona com a mesma dinâmica que uma banda "plugada". Não tem aquele lance de baterista tocando só com vassourinha (vide o acústico do Nirvana), ou aquele ambiente intimista composto por uma orquestra gigante pra dar preenchimento ao show (vide acústicos como o do Kid Abelha, dos Titãs, entre muitos outros produzidos pela MTV). A pegada é bem parecida com a de uma banda do Rock n' Roll. Talvez o único problema da banda seja uma das backing vocals (a que divide os vocais de algumas músicas com o Emmerson) que tem uma voz significativamente forçada, tentando fazer uma mistura de cantora lírica com cantora estilo afro-americana sem ter um resultado muito agradável.

O set list só tem clássicos do Rock, dos anos 60 aos 80 - tanto são "clássicos" que todas as músicas têm mais de 20 anos. Muitas músicas mostram influências e preferências do Emmerson, como as do Supertramp e Pink Floyd. Como disse anteriormente, os arranjos são muito criativos. Os músicos fazem paradinhas, quebradas no ritmo, improvisações; enfim, tudo o que os músicos amadores como eu adoram. Neste quesito eu destaco o baterista, que mostra muita ciratividade e até certa ousadia nas linhas de bateria - ousadia no sentido de usar padrões geralmente usados para música mais pesada que poderiam comprometer o clima de acústico, mas acabaram casando muito bem com o espírito deste acústico. O uso de diversos instrumentos de cordas também é interessante, principamente o da viola (que é um instrumento tipicamente brasileiro) aplicada à música gringa.

Das músicas do set list, duas que merecem destaque são Wish You Were Here / Breathe e Instrumental Viola. A primeira é um medely muito bem bolado, aproveitando o final do clássico violeiro do Pink Floyd para emendar a música introdutória do clássico álbum The Dark Side of the Moon. A segunda é um instrumental de autoria da própria banda, com uma abordagem interessante misturando o solo de viola cinturada com texturas de sintetizadores ao fundo.

As imagens do show são produto de uma super produção. O show foi gravado numa casa de eventos de São Paulo chamada Moinho, casa esta que tem um visual rústico com paredes de tijolinho muito charmosas. O conjunto da iluminação, fotografia e número de câmeras suficientes para cobrir cada detalhe da performance de cada músico fazem com que você se sinta como se estivesse lá no Moinho. Assitir com um Home Theatre deve ser melhor ainda.

Desde que o formato de show acústico se tornou popular (por volta do incício dos anos 90), muitas bandas têm adotado o formato, porém de formas diferentes. Alguns artistas optam por shows mais minimalistas, como Eric Clapton e Paul McCartney. Outros tentam recriar os arranjos de modo a criar um ambiente intimista, geralmente com o auxílio de instrumentos de orquestra como violinos, cellos, violoncelos, etc. Poucas bandas tentam recriar a mesma pegada de quando se toca plugado - de cabeça lembro agora do Ultraje à Rigor - e o Emmerson Nogueira foi uma dessas. E este último modo de se fazer um acústico é provavelmente o jeito mais fácil de contagiar a platéia. E neste aspecto o Emmerson Nogueira dá uma aula neste DVD.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Interpretando a letra de "Casa" (Lulu Santos)

Como eu já havia dito no primeiro post, este blog não terá só resenhas sobre álbuns. Ele terá outras discussões acerca do tema música que eu julgue serem interessantes. Eis a primeira delas: vou analisar aqui a letra da música Casa, do Lulu Santos. Esta música tem mais de vinte anos, mais ainda é muito atual, como toda a obra do Lulu Santos - o que ele escreveu nos anos 80 já era à frente do seu tempo, e continua sendo atual nos anos 2000.

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Música: Casa
Álbum: Lulu (1986)
Autor: Lulu Santos

Primeiro era vertigem como em qualquer paixão
Era só fechar os olhos e deixar o corpo ir no ritmo
Depois era um vício, uma intoxicação
Me corroendo as veias, me arrasando pelo chão

Mas sempre tinha a cama pronta e rango no fogão
Luz acesa, me espera no portão prá você ver
Que eu tô voltando pra casa, me vê
Que eu tô voltando pra casa outra vez

Às vezes é tormenta, fosse uma navegação
Pode ser que o barco vire, também pode ser que não
Já dei meia-volta ao mundo levitando de tesão
Tanto gozo e sussurro já impresso no colchão

Pois sempre tem a cama pronta e rango no fogão
Luz acesa, me espera no portão prá você ver
Que eu tô voltando pra casa, me vê
Que eu tô voltando pra casa outra vez

Primeiro era vertigem como em qualquer paixão
Logo mais era um vício me arrasando pelo chão
Pode ser que o barco vire, também pode ser que não
Já dei meia-volta ao mundo levitando de tesão

Pois sempre tem a cama pronta e rango no fogão
Luz acesa, me espera no portão prá você ver
Que eu tô voltando pra casa, me vê
Que eu tô voltando pra casa outra vez

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Esta música parece ser feita para aquele cara que chifrou (ou ainda chifra) a mulher e depois se arrepende. Nos primeiros versos ele mostra que anda aprontando, mas fala das coisas legais:

Primeiro era vertigem como em qualquer paixão
Era só fechar os olhos e deixar o corpo ir no ritmo.

Depois ele começa a perceber que está fazendo cagada e mostra o arrependimento:

Depois era um vício, uma intoxicação
Me corroendo as veias, me arrasando pelo chão.

E aí vem o cúmulo da cara-de-pau e ele se dá conta que tem o bem-bom esperando em casa. E ainda anuncia que vai voltar:

Mas sempre tinha a cama pronta e rango no fogão
[...] me espera no portão prá você ver
Que eu tô voltando prá casa

E depois do refrão ele ainda relembra dos "bons tempos", comparando o relacionamento extra-conjugal com o navegar em um barco:

Às vezes é tormenta, fosse uma navegação
Pode ser que o barco vire, também pode ser que não
Já dei meia-volta ao mundo levitando de tesão
Tanto gozo e sussurro já impresso no colchão.

Ele até mostra um certo temor de que tudo dê errado, mas bem de leve:

Pode ser que o barco vire, também pode ser que não

Eu achei muito legal a letra pela sutileza com a qual o Lulu trata este assunto. Além disso, eu não lembro de uma música de um chifrador arrependido - ao contrário de música de chifrado, das quais já estamos fartos.

Quanto à música em si, o Lulu mostra que é um produtor de mão cheia. O cara conseguiu criar um clima de suspense nas estrofes, e boa parte deste clima se deve à harmonia. Os acordes da harmonia têm várias notas em comum, tendo variações só na nota tônica (ou seja, a mais grave), o que, junto com os teclados, dão uma bela textura à música. E na entrada dos refrões ele usa delays na guitarra que lembram muito o mestre The Edge do U2 - e olha que nesta época o The Edge estava só começando a explorar as sonoridades loucas que o tornariam conhecido até hoje.

Pra acabar, um vídeo com a performance ao vivo, que é muito legal: http://www.youtube.com/watch?v=ihgqAmxwVXo