Nos últimos tempos venho cultivando um novo vício: colecionar discografias. Passei a montar um acervo pessoal com o material das maiores bandas do Rock e gêneros relacionados e, conforme vai batendo a vontade ou curiosidade, vou pegando o trabalho de alguns artistas pra escutar - afinal, nada mais agradável do que deixar rolar um Rock n’ Roll no carro enquanto se está num trânsito daqueles bem “agradáveis” em São Paulo.
Numa destas empreitadas, escutando a discografia do Toto, acabei simpatizando com um álbum não muito conhecido do grande público. A diversidade musical apresentada no álbum me chamou muito a atenção, tanto que ele não saiu mais da minha cabeceira. Então, depois de quase dois anos sem uma resenha de álbum, o Álbuns de Cabeceira trás uma descoberta de uma das bandas mais cultuadas do mundo da música: o álbum Tambu, de 1995.
Pra quem não conhece, o Toto é uma banda dos Estados Unidos formada no final da década de 70 por músicos de estúdio que trabalharam com nomes consagrados da música na época. Eles ficaram famosos por hits como Africa e Rosanna, ambos do álbum mais famoso do grupo (Toto IV, de 1982). A formação clássica da banda é composta por Bobby Kimball (voz), Steve Lukather (guitarra e voz), David Paich (teclado e voz), Mike Porcaro (baixo) e Jeff Porcaro (bateria). A banda passou por algumas mudanças em sua formação, principalmente no posto dos vocais principais. A grande marca do Toto sempre foi a mistura de elementos de rock, blues, jazz, funk e soul com letras mais voltadas para o pop – por isso muitas vezes se compara aqui no Brasil o Roupa Nova ao Toto.
O álbum Tambu, lançado em maio de 1995 na Europa e em junho de 1996 nos Estados Unidos, foi o primeiro álbum gravado pelo grupo após a morte do baterista Jeff Porcaro, em 1992, devido a uma reação alérgica a pesticida. Após a banda quase encerrar as atividades, a família do músico insistiu na continuação do grupo e então Simon Phillips foi convidado para assumir as baquetas. Além disso, com Bobby Kimball fora da banda, Steve Lukather vinha assumindo na época os vocais principais. Talvez por estes acontecimentos, este álbum tem um clima mais sombrio, uma sonoridade mais orgânica e letras tratando sobre temas mais abstratos e reflexivos. Entretanto, a mistura de ritmos está presente como na maioria da discografia. A voz de Steve Lukather também é um ponto alto, o que gerou comentários do tipo: “Como é que este cara não cantava antes?”
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Nome do álbum: Tambu
Lançamento: 1995
Músicas:
01. Gift of Faith
02. I Will Remember
03. Slipped Away
04. If You Belong to Me
05. Baby He’s Your Man
06. The Other End of Time
07. The Turning Point
08. Time Is the Enemy
09. Drag Him to the Roof
10. Just Can’t Get to You
11. Dave’s Gonna Skiing
12. The Road Goes On
13. Blackeye
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Gift of Faith é a música que mais representa o momento que a banda passou devido à tragédia com o ex-baterista Jeff Porcaro. A música trás um sentimento de descrença mas conclui que só se pode superar este sentimento ao aceitar a “dádiva da fé”. A música ainda trás um belo backing vocal ao estilo R&B.
As baladas, tão presentes no repertório dos anos 80 do Toto, são representadas neste álbum por I Will Remember e sua pegada world music, por If You Belong to Me com os belos vocais de Steve Lukather, por Just Can’t Get to You com o tradicional formato acústico e por The Other End of Time. Todas elas possuem letras tristes e melosas, beirando o "cornismo" do sertanejo brasileiro clássico.
Slipped Away mostra o poderio guitarrístico do mestre Steve Lukather numa harmonia jazzy. Já Time Is the Enemy trás uma letra e uma melodia enigmáticas, bem no clima obscuro que domina o álbum.
O álbum também trás as levadas funky de Baby He’s Your Man e The Turning Point, que contam com a participação da cantora Jenny Douglas-McRae. A primeira é um diálogo entre um casal, interpretado vocalmente por Steve Lukather e a cantora convidada, a respeito da traição cometida por ela e da situação insustentável do casal. A segunda filosofa a respeito de quando se está perdido e não se sabe o que fazer nem o que está por vir no futuro.
Drag Him to the Roof é uma metáfora interessante sobre como uma pessoa se sente ao ser julgada pelos outros – a metáfora é justamente a descrição de um julgamento; com presença de juiz, advogados e tudo mais. Esta é uma das poucas músicas “pra cima” de todo o álbum.
Dave’s Gonna Skiing é uma música instrumental com ritmo quebrado, bem ao estilo prog que sempre apareceu nos álbuns do Toto ao longo dos anos. O nome da música veio do simples fato de ela ter sido composta enquanto David Paich esquiava e, a seu contragosto, o título não foi mudado até o lançamento do álbum.
Seguindo as temáticas obscuras do álbum, The Road Goes On mostra um sentimento de libertação de dores passadas, de forma a permitir a construção de uma nova vida. O clima de suspense nos versos e que explode no refrão também denota este sentimento de liberdade.
Fechando o álbum, o bom e velho blues em Blackeye. Desta vez o tom da música não é tão obscuro, simplesmente trata de uma mulher reclamando de um cara que vive atrás dela mas não quer nada sério.
Um registro interessante deste álbum é o making of, que mostra passagens da turnê anterior na qual algumas músicas foram apresentadas para o público e também das gravações em estúdio.
Em suma, Tambu é um disco um tanto quanto denso do ponto de vista temático, mas a sua diversidade musical o torna bastante agradável como trilha sonora. Se você achou este álbum intragável e concluiu que todo o material do Toto é assim, então é melhor começar a escutar a banda a partir de álbuns mais "tragáveis" como o Toto IV, que é muito bom e cheio de hits.
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