quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mamonas Assassinas - O cometa musical brasileiro

Quem aí não sabe uma música do Mamonas Assassinas de frente pra trás e de trás pra frente? É... de fato eles foram um cometa na música brasileira. Apareceram e se foram na mesma velocidade de milhares de anos luz. E todo o sucesso que eles fizeram não foi só devido às letras e às apresentações irreverentes, mas também devido à qualidade musical que eles tinham.

A banda - formada por Dinho ("voz e vocais"), Samuel Reoli (baixo), Júlio Rasec (teclado e vocais), Sérgio Reoli (bateria) e Bento Hinoto (guitarra) - começou com o nome de Utopia e tinha um som mais sério, até certo ponto sombrio. As influências da banda se baseavam nos estilos mais modernos de Heavy Metal do início dos anos 90, como Faith no More e Dream Theater. Este estilo era uma fusão das guitarras pesadas Metal tradicional dos anos 80 com sons de sintetizador. Estas influências continuaram mesmo após a guinada que deram no estilo da banda, guinada esta ocasionada pela proução musical de Rick Bonadio - quem diria que este mesmo produtor viria a colocar tanta porcaria no mercado musical até os dias de hoje...

Neste artigo eu vou bancar o desagradável tentando explicar algumas piadas e brincadeiras que o grupo faz neste disco. Só vou fazer isso porque foi justamente neste aspecto que eles mostram uma criatividade enorme, e isso passou desapercebido por muitos na época - ainda mais pelos que eram crianças na época, como eu.

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Nome do álbum: Mamonas Assassinas
Lançamento: 1995
Músicas:
01. 1406
02. Vira-Vira
03. Pelados em Santos
04. Chopis Centis
05. Jumento Celestino
06. Sabão Crá-Crá
07. Uma Arlinda Mulher
08. Cabeça de Bagre II
09. Mundo Animal
10. Robocop Gay
11. Bois Don't Cry
12. Débil Metal
13. Sábado de Sol
14. Lá Vem o Alemão

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01. 1406
Quem aí se lembra daqueles programas de compras da TV nos anos 90? E qual era o telefone do programa? 1406!! A música fala justamente dos sonhos de consumo de um homem humilde. Nesta música o Dinho (vocal) já começa com sua imitação do Belchior, imitação esta que era quase como uma segunda-voz dele. O Dinho usa justamente o Belchior para representar os brasileiros mais humildes.

02. Vira-Vira
Vira-Vira foi um dos maiores hits da banda na época. É simplesmente uma piada de português, só que com tons de sexualidade muito bem diluídos a ponto de fazer crianças cantarem palavras como "suruba", "monoteta" e "putaria" na frente dos avós - eu fui uma destas crianças. Nesta música a banda mostra uma grande versatilidade musical, transitando do Vira (ritmo tradicional de Portugal) para o Rock em questão de segundos.

03. Pelados em Santos
Pelados em Santos foi a música que abriu as portas para o humor nas composições do grupo, e por isso se tornou o maior hit da banda na curta trajetória de um ano e meio. Esta música é uma paródia do estilo "brega" (ou popular, como queiram).

04. Chopis Centis
O Belchior cover volta em Chopis Centis, desta vez cantando uma música que é um "semi-plágio" da música Should I Stay or Should I Go, do The Clash. Mais uma música que é dedicada ao povo brasileiro.

05. Jumento Celestino
Jumento Celestino é a terceira música do álbum dedicada aos nordestinos, mais especificamente àqueles que vêm para as cidades grandes e enfrentam as mais diversas dificuldades. Mais uma boa mistura de ritmos feita pela banda, agora do Rock com o Forró.

06. Sabão Crá-Crá
Aqui temos uma piadinha interna do grupo. No encarte do álbum, a duração da música é de 4:10, quando na verdade é 0:42. E essa é só uma das piadinhas do encarte: tem o "recorte aqui e estrague seu encarte", os agradecimentos ao Chaves e ao Chapolin, etc. A música é uma à capela com aquele clássico poeminha proibido para menores de 18 anos.

07. Uma Arlida Mulher
Pela terceira vez, o Belchior cover assume os vocais. A letra conta com uma série de pérolas literárias, e dentre elas destaco duas:

Te falei que o pediatra é o doutor responsável pela saúde do pé
O zoísta cuida dos zóio e os oculista, Deus me livre, nunca vão mexer no meu
Pois nos "tira e põe, deixa ficar" da vida
serei sempre seu escravo de Jó

A música acaba com um fade-out (aquele efeito em que a música vai diminuindo de volume gradualmente até ficar inaudível), e durante o efeito o Dinho fica falando várias besteiras aleatórias. Este efeito lembra aquelas rádios que vão diminuindo o volume das músicas para o locutor falar umas baboseiras.

08. Cabeça de Bagre II
Eu não entendi porra nenhuma desta letra, e eu acho que era essa a intenção - tanto que existe uma nota no álbum dizendo "música incidental". A música é um misto de protesto, problemas da infância, imitação da risada do Pica-Pau com a guitarra e trilha sonora do "Baby Elephant Walk" (nei sei do que se trata este tal de "caminhar do elefantinho", quem souber posta um comentário aí).

09. Mundo Animal
Quem é que canta esta música? Sim, o Belchior cover novamente! A música tem um violãozinho bem simpático, que dá um tom infantil para a música. Mesmo durante os refrões pesados, sons de metalofones (aqueles tecladinhos de metal de criança) ainda mantém o clima infantil da música. Assim como em Vira-Vira, a banda mostra um jogo de cintura muito bom ao fazer uma música simpática às crianças mesmo com expressões do tipo "as cabritas têm seios", "os cachorros que comem a própria mãe, sua irmã e suas tias", "bazuca anal", etc.

10. Robocop Gay
A letra de Robocop Gay é repleta de duplos sentidos, uns mais claros e outros mais discretos. Enquanto eu escutava o álbum para escrever este artigo, descobri um backing vocal um tanto quanto indiscreto:

Minha pistola é de plástico
(Quero chupar, ah, ah)
e em formato cilíndrico
(Quero chupar, ah, ah)
sempre me chamam de cínico
(Quero chupar)
mas o porquê eu não sei.
(Quero chupar, ah)

Apesar do tom humorístico, em momento nenhum a letra é preconceituosa. As performances ao vivo desta música ganharam uma paradinha na qual o Dinho imitava o piri-piri-pi-piri da Gretchen.

11. Bois Don't Cry
Já falei sobre esta música na Nota Musical II - pra quem não leu, a parte pesada desta música mostra claras influências do Dream Theater e do Rush. Esta música mistura o Rock Progressivo destas duas influências dos Mamonas com o "Breganejo" - repare nos vocais harmonizados e nos vibratos a cada fim de verso. E no fim da música o Bento ainda faz um som de boi com a guitarra. Se você ainda não percebeu, o nome da música é inspirado na música Boys Don't Cry, do The Cure.

12. Débil Metal
Débil Metal é uma sátira do Heavy Metal. A letra (em inglês) é estremamente idiota e mostra alguns clichês do Metal (só as palavras "darkness" e "sucker" são suficientes para entender). Os vocais são inspirados no Max Cavalera, vocalista do Sepultura na época (banda que estava no auge da fama). O instrumental mostra bastante a influência do Dream Theater, com um riff de guitarra marcante e o teclado fazendo toda a base.

13. Sábado de Sol
Esta música é um acústico inocente, parecido com um luau na praia.

14. Lá Vem o Alemão
Estava demorando pra misturar o Rock com Pagode. Desta vez os imitados são Luiz Carlos (vocalista do Raça Negra) e Netinho de Paula (na época integrante do Negritude Júnior). Como é um pagodão, obviamente a letra tinha que ser de corno:

Só porque ele é lindo, loiro e forte
tem dinheiro e um Escort
como Modess, você me trocou.

Bandas com irreverência surgem aos montes no cenário musical brasileiro, mas o Mamonas foi diferente de tudo o que existia e de tudo que ainda existe. O aparecimento, o sucesso e a morte repentinos contribuem muito para a criação de um mito ao redor dos meninos de Gurulhos; mas este não é o único fator que os torna especiais. O fato de ser uma banda essencialmente escrachada sem necessariamente descuidar da qualidade musical chama muito a atenção dos fãs de música em geral. Inclusive, até hoje muitos metaleiros idolatram o Bento Hinoto, que na época já se revelava um guitarrista promissor. O que vale é ter na lembrança os momentos hilários que passamos acompanhando a passagem deste cometa pelas nossas vidas.

5 comentários:

  1. Caramba Erico, bem legal seu blog, gostei =)
    e vc escreve muito bem cara, parabens! continua postando que está maneiro

    abraco
    Fino

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  2. pelados em santos, plagiado de uma melodia gospel, feita em 1981, essa é boa, 8 compassos inteiros .veja plagio dos mamonas no video.

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  3. Oi, Érico.
    Sobre a "Cabeça de Bagre II", li em algum lugar que se trata uma paródia das principais bandas BRock 80's (Titãs, Engenheiros, Legião...) que tinham algumas letras intelectualóides, beirando filosofia de bêbado. haha! E faz sentido se a gente analisar o baixo introdutório dessa faixa é mto característico das bandas daquele período.

    Abraço!

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  4. Mesmo esse blog tendo sido postado há tempos, eu só o vi agora, e fiquei emocionado. Sempre lembro dos mamonas, que morreram quando eu ainda ía completar 5 anos. Lembro até hj aquele dia. Uma tristeza enorme. Como eu queria que os Mamonas assim como Ayrton Senna estivessem vivos ainda nos dias de hj.

    Rhuam

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  5. Existe uma musica internacional muito parecida com a 1406, eu não sei o nome, se alguem souber me fale.

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