sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nota Musical IV: O processo de amadurecimento musical

Em várias conversas sobre música com amigos meus eu comecei a reparar que sou um pouco "do contra": com relação a bandas que têm fases distintas, gosto mais das fases recentes, as quais geralmente são mais criticadas por serem mais "pop". Parando pra pensar a respeito, comecei a elaborar uma "tese" a respeito do amadurecimento musical. E é sobre ela que eu vou teorizar um pouco nesta postagem.

Eu acredito que todos os músicos passam por um processo de amadurecimento musical. Veja bem, isto não significa que o músico muda de estilo ou melhora/piora em termos de qualidade, simplesmente mudam a abordagem da sua obra. Este amadurecimento pode ser observado claramente na obra do músico, porém dificilmente esta mudança de abordagem é interpretada como um amadurecimento. De maneira geral, este amadurecimento musical gera críticas principalmente dos fãs, pois estes sempre esperam que o seu ídolo continuem "falando a mesma língua" deles, através da música. A mudança não ocorre só para o músico, o fã também tem que se adaptar à nova abordagem de seu ídolo para entender a mensagem que ele quer transmitir.

Existem infindáveis exemplos de bandas que sofreram este processo. Eu vou falar um pouco sobre Rush (é claro...), Metallica, Pink Floyd e Yes.

Começando com o Metallica, que é um dos casos mais famosos. O Metallica surgiu no começo dos anos 80 como banda de Heavy Metal (ou Speed Metal, como costumam especificar os metaleiros), lançando os furiosos álbuns Kill 'em All (1983), Ride the Lightning (1984) e Master of Pupets (1986), sendo este último considerado uma obra-prima da banda. Depois do lançamento de Master of Pupets, o baixista Cliff Burton morreu num acidente com o ônibus da banda durante a turnê, então Jason Newsted o substiuiu. Já com Jason comandando as cordas graves, a banda lançou o álbum And Justice for All... (1988), que marcou o início do amadurecimento musical da banda. Os arranjos mais melódicos se contrapunham à velocidade do som da banda nos últimos álbuns, mas a qualidade continuou a mesma. A música One foi o grande hit do álbum, tendo até merecido um clip que por muitas vezes passou na MTV. Mas a grande virada na carreira da banda viria com o homônimo Metallica (1991), mais conhecido como Black Album. Músicas como Nothing Else Matters e The Unforgiven mostram uma mudança drástica no som da banda, que passou a adotar um andamento mais cadenciado de modo geral. A partir deste álbum, o som da banda passou a seguir esta linha menos Speed Metal.

Sobre a história do Yes eu não conheço muito para dar detalhes, mas sei que foi a banda mais bem sucedida do Rock Progressivo. O Yes seguia a linha do Rock Progressivo notória por suas músicas longas e épicas, como Close to the Edge. Depois de a banda ter acabado nos anos 80, em 1983 eles voltaram com o álbum 90125, trazendo o grande hit da banda, Owner of a Lonely Heart. A partir desta época, o Yes passou a explorar mais este lado "pop" - alguns exemplos são as músicas Love Will Find a Way e Walls. Mesmo fazendo músicas mais curtas e com formatos mais convencionais, os arranjos continuaram contando com os sintetizadores complexos e outros instrumentos diversos.

O Pink Floyd foi o que foi graças às maluquices de Syd Barret nos anos 60 e de Roger Waters nos anos 70. Após a saída de Syd Barret da banda, o Pink Floyd lançou vários clássicos como The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975), Animals (1977) e The Wall (1979); todos eles com fortes cargas conceituais (as agústias humanas, o tributo a Syd Barret, as metáforas homem-animal e a autobiografia de Roger Waters; respectivamente) e contando cada vez mais com a exclusividade de Roger Waters nas composições. Após o fracasso de The Final Cut (1983) e das brigas internas, Roger Waters saiu da banda (ou foi expulso, sabe-se lá...) e David Gilmour assumiu boa parte das composições do Pink Floyd em A Momentary Lapse of Reason (1987), o que torna este álbum quase como um trabalho solo do guitarrista. Tanto este álbum quanto o álbum The Division Bell (1994) mostram um Pink Floyd (ou um David Gilmour, tanto faz) mais ameno e menos "cabeçudo" do que o Pink Floyd dos anos 60 e 70. Músicas como On the Turning Away, Learning to Fly, Take it Back e Coming Back to Life mostram um lirismo dificulmente encontrado nos anos cerebrais do Pink Floyd.

O caso do Rush eu deixei por último devido à sua complexidade. A carreira da banda passou por pelo menos 4 fases distintas, sempre acompanhando os movimentos musicais de sua época. E estas diferentes fases levaram a mais de um processo de amadurecimento por parte da banda. O amadurecimento incial ocorreu por volta de 1976/1977, quando a banda começou a deixar o Hard Rock dos álbuns Fly by Night (1975), Caress of Steel (1975) e 2112 (1976) para começar a desvendar o mundo do Rock Progressivo em A Farewell to Kings (1977). Uma segunda mudança veio com o disco Permanent Waves (1980), trazendo músicas menores e com conceitos mais simples, além da introdução dos sintetizadores. Por fim, um "terceiro amadurecimento" veio no fim dos anos 80, com o álbum Presto (1989) trazendo de volta as guitarras ao lugar que havia sido tomado pelos sintetizadores. Os fãs da banda sempre questionam os integrantes do Rush sobre a possibilidade de um álbum conceitual ou da volta dos sintetizadores, mas esta realidade é cada vez mais distante.

No fim das contas, o amadurecimento musical se deve bastante pela idade de seus integrantes. As bandas que eu citei como exemplo surgiram quando seus membros tinham menos de 30 anos em média. Depois de passar a barreira dos 30 ou 35 anos, vários conceitos mudam na cabeça de uma pessoa. Toda aquela energia da juventude já foi drenada para as obras feitas na época que eram jovens e com o passar da idade a experiência vai trazendo a verdade: o grande lance da música é despertar sentimentos nas pessoas. E para despertar sentimentos e emoções, muitas vezes músicas simples já são suficientes. Quando um músico consegue sensibilizar as pessoas, - seja com músicas de 23 ou de 3 minutos, seja com arranjos orquestrais ou com voz e violão, seja explorando o modo grego mixolídio ou simplesmente a escala maior de dó - então pode-se dizer que trata-se de um músico maduro.

2 comentários:

  1. Ae Érico dando uma passada pelo gmail vi sua mensagem no nick e acabei entrando aqui, muito boa a iniciativa de se comentar sobre música de qualidade, ao que falta a maioria dos brasileiros. Não posso dizer que a maioria dos rocks que você te agradam, me agradam de tal forma, mas respeito uma posição madura de gosto musical. E uma pequena errata para o seu último post: O verdadeiro nome do baixista do Metallica era Cliff Lee Burton

    Tiago

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  2. Ôôôôôôôôôôôôô, valeu pela errata!

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